Globalização e a perda da autenticidade no Design

 



“[Globalização] Longo processo histórico, que vem ocorrendo com progressiva aceleração desde a época dos chamados “descobrimentos” por navegadores europeus em fins do século XV, e não a qualquer um dos agentes ou partidos envolvidos nas lutas políticas atuais” (Cardoso, Rafael. Design para um mundo complexo)


Com o desenvolvimento acelerado das redes sociais e da indústria, cada vez mais problemas e culturas que pareciam exclusivos de algum lugar estão se tornando populares e debatidos em todas as partes do mundo, ao mesmo tempo. E, é claro, sempre atreladas à tendência mundial, as diversas áreas do conhecimento são afetadas por isso também, principalmente o Design. Dentro desse campo, é claro, são bem-vindas as referências e novos conhecimentos de outras culturas; no entanto, é possível notar que a exposição contínua de profissionais a certas tendências visuais fomentadas pela globalização promovem a homogeneização de diversos produtos, principalmente digitais, e gera uma perda de personalidade e, acima de tudo, de criatividade.


Não é uma novidade que o mundo moderno está cada vez mais conectado e embaralhado. “Globalização não é algo que aconteceu de vinte ou trinta anos para cá; é uma transformação que vem se processando de modo gradativo há séculos, mas que só ficou aparente em tempos recentes, quando os dados começaram a ser cruzados.” (Cardoso, Rafael. Design para um mundo complexo). Um dos efeitos disso, é claro, é a dominação da cultura de maior influência sobre a de menor, sobretudo a de países desenvolvidos, como o softpower americano.


“Hoje em dia, não há como ser “contra o sistema”, pois construímos um mundo em que quase nada existe fora do domínio do artificial (no sentido daquilo que é oposto ao natural).” (Cardoso, Rafael. Design para um mundo complexo). Dessa forma, com o acesso cada vez maior a informações de todos os lugares do mundo e a ativa interferência, mesmo que sutil, da cultura dominadora, muitas vertentes da design estão tornando-se uniformes e muito semelhantes, os conceitos passam a ser simulacros de si mesmos e são esvaziadas do sentido original.


Um exemplo disso é o conhecido design vernacular, que virou tendência nos últimos meses pela popularização de uma fonte livre de uso, a “Oferta do Dia”. A tipografia é baseada nas letras dos anúncios de supermercado feitos a mão e foi bastante utilizada em campanhas e posts de redes sociais. Com o uso cada vez maior, a fonte acabou se tornando um símbolo do design vernacular para diversos profissionais que estão inseridos nessa cultura de informação e presos em simulacros que também criam. Enquanto o anúncio de supermercado é, sim, vernacular, resumir o conceito apenas a isso é despi-lo de tudo que essa vertente do design representa.


Fonte: Behance.net




Referências

CARDOSO, Rafael. Design para um Mundo Complexo. Ubu Editora, 2016.

Behance. Disponível em: <behance.net>. Acesso em: 19 de Agosto de 2024.



Ficha Técnica

Texto desenvolvido por Marina Beatriz para a disciplina Teoria do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design - 2024. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com). 

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